30.11.11

Ninguém pode saber. Estás quentinho, tão dentro de mim. Mas é segredo. Agora abraça-me com força. Abraça-me com muita força.
A luz do dia é pouco nítida e não te vejo nem em reflexos meus. O teu perfume desapareceu-me das entranhas geladas e já não te sinto pertinho do peito. A tua voz já me fugiu da memória ao ponto de não conseguir montar-te dentro da minha cabeça, numa imagem perfeita, como sempre consegui.
A tua saliva, o teu sangue, o teu suor. Evaporaste-te de mim, roubaste-me todos os pedaçinhos teus.
Agora não me lembro nem dos teus buracos feios e escuros, não me lembro do quanto gostava do sabor da tua pele. Não me lembro do verde dos teus olhos na habitual tentativa de caçar os meus. Não me lembro do cheiro das noites e das nossas manhãs clarinhas, morreste-me. Porquê, anjo mau ? Cansaste-te de morar em mim ? 
Anseio mais uma crise de saudade vomitada pelo teu perfume, quando me aparecer mascarado de vento, como de costume. E quero guardá-lo numa caixinha vermelha, como a cor do nosso sangue fundido e esconde-la no nosso quarto, segredo. 
Volta rápido a casa, anjo mau. Está muito frio lá fora. Enquanto não me voltas a destruir os sonhos vou continuar a arruma-los na gavetinha com o teu nome no meu coração pra quando chegares. Até logo, anjinho
Andavas como o mar, cada onda tua balançava na minha costa com uma serenidade mesmo á minha medida, como que inocente mas ao mesmo tempo levavas contigo pedaçinhos meus , ainda nao sei de mim. Era tudo cheiroso e verde, sempre contigo. Deixavas-me sempre flutuante. Mas nasceste com o coração três tamanhos abaixo, anjo-mau. Falto-te eu a compo-lo. Falto-te sempre eu. E faltas-me sempre tu. O teu peito já não é peito, é vazio, engoli-o. E tu engoliste o meu. Ainda estou por ai perdida. E tu estás perdido.

28.11.11

Sou eu. Eu a deixar-me puxar por um arrepio gelado. Sinto as pernas a vibrar, como um vento sólido com o objectivo de me derrubar, uma espécie de força compacta que nada robusta debaixo de mim. Tenho o sabor de mil vidas trincadas e trituradas dentro da boca, uma espécie de revolução meia bizarra que se esbarra contra a saliva que já foi tua, tantas vezes. O meu coração, esse nem o sinto de tão impaciente. Também ele se mascara agora de vento, mas um vento frio que me faz respirar muito rápido numa tentativa falhada de me aquecer, não só o físico.Tenho um zumbido tão negro nos ouvidos, quase embaciado, só ouço o abstracto, o não real, de forma a ouvir todos os frutos da minha imaginação como presentes-a voz. Cheira a saudade, a momentos desperdiçados, a sangue insosso, a lágrimas amargas, cheira a uma beleza tão clara e precisa. Há tanta contradição junto da minha pele gelada, quase não se lêem. Os meus olhos estão cheios, completos-estás perto.
Nunca te soube ler a chegada, anjo-mau. Tens que chegar muitas vezes juntinho de mim e do meu coração, ele sente a tua falta, sente muito a falta do teu coração, mas não lhe digas nada que ele é meio orgulhoso. Até logo,minha ferida cheirosa *

17.11.11

Estavas tu e o verde dos teus olhos no meu mundo, sentados numa espécie de nuvem sólida construída pela minha alma minuciosamente. Pareces sempre intocável. Levantaste-te e vieste dar-me um beijo, desapareceste durante dias. Estávamos numa espécie de céu, parecia tudo tão nosso.Voltaste. Estava eu e tu, um paraíso e muito cheiro a natureza. Havia humidade no ar e um riacho que rasgava o chão gelado. Havia árvores e pedras tão frias. Pedras cobertas de musgo verde e cheirava a Inverno. Tu estavas distante, estavas como sempre longe, tão longe. Eu estava a adorar estar sentada numa pedra gelada com os pés dentro de água. Eu estava quase a congelar e tu sabias. Estava tanto frio. E tu passeavas a alma em frente à minha, desfilavas exibindo um sorriso já gasto como se ganhasses uma vida ao fazê-lo. Cada vez me sopravas mais frio e o meu corpo fugiu. Deixei de me sentir e tu aproximaste-te devagarinho, para dar tempo de gravar a tua dança com todos os pormenores. A cada passo teu me sentia mais, sentia-me controlada, pela primeira vez. Estavas tão perto. Cegaste-te pertinho do meu peito e mal me tocaste o meu corpo acendeu. Senti o meu coração sair fora do peito, senti a tua respiração nos lábios e tentei inspirar o máximo de cheiro ao amor-ainda o guardo, mas escondido para não mo voltarem a arrancar da alma-. Estava escuro, entrei numa espécie de trance, sentia-me a cair mas abri os olhos muito rápido. Estavas tu a centímetros do beijo. Sentia o meu coração quase a trincar o teu, outra vez. Fechei os olhos, de lábios rasgados, com o teu sorriso favorito, esperei. Senti-me a gelar, fugiste-me. Deixaste-me outra vez em frente ao nosso rio, de beijo por dar. Fugiste-me para a outra margem mas eu tinha tanto frio. Voltaste ao ritual como nada se tivesse passado e voltaste a expirar-me esse perfume a vida. Sentia-me a congelar outra vez. Voltaste e nessa tarde morri umas mil vezes. Anoiteceu e tu continuavas. Numa dessas viagens deixaste cair o coração no meu peito. Agarrei-o com força e o teu físico evaporou, ficou o perfume e a tua voz. Ainda a sinto, ás vezes, a descrever segundo a segundo as noites, as noites que foram nossas. Essas ninguém nos tira, anjo-mau. Sinto-a a rir alto como fazíamos só os dois e de vez em quando aparecem os teus olhos, tão diferentes. Os teus olhos, fora de ti, mostram-me as tardes de verão, só nossas. À noite ainda me aqueces de vez em quando, no intervalo congelo, tenho sempre muito frio, anjinho. Não deixes, não demores muito porque o fogo pode trair-te, corre outra vez, até já

14.11.11

A culpa é minha. Perdi-nos, anjo-mau. Estávamos tão dentro um do outro que acabei por me perder. E tu foste comigo. Agora o peito que antes era peito é vazio. Vazio mas perfumado, tão cheiroso. És tu. És sempre tu que me destróis os sonhos.

7.11.11

Andamos trocados. Tenho demasiados pedaçinhos perdidos numa sala com nada que não sei bem se é minha. Tu estás demasiado vazio . Nunca soube dar-te o que precisavas. Fui arrancando manchas de ti que agora estão comigo, sempre. E tu ficaste sem ti. E sempre que tropeço nalgum pedaçinho vem-me o sabor de amor aos lábios -mesmo quando estavas comigo, lábios com lábios tinha sede de ti e dos teus sopros- são cada vez mais pedaçinhos, pedaçinhos de lembranças que se vão multiplicando. Já me disseram que um dia não cabem mais pedaçinhos porque tenho um coração muito pequeno. Acredito que até lá voltes, minha nuvem predilecta. Quero voltar a percorrer as ruas da nossa cidade com o sabor a amor na minha saliva, quero sentir-me mais quente que o sol e mais leve e solta que o mar, outra vez. Quero muito. E tu também queres os teus pedaçinhos de volta, anjo-mau. Sempre adoraste a cor da mistura dos dois vermelhos. Sei que ainda tens uns pedacinhos escondidos debaixo da almofada. É uma espécie de alimento para a alma. Nós é que perdemos sempre a melhor parte, quando dormimos e ela nos foge. A minha alma ainda te visita ás vezes, sabias ? O vermelho que me chega de manhãzinha é tão teu. Acho que a minha alma anda cansada, leva tantos pedaçinhos e corre tanto para te beijar. Tens que correr para aqui. Eu devolvo-te os pedaçinhos. Rápido