6.9.12

As estrelas tem frio. O rio está a dormir. O Sol está longe.Não há luz. Chegas tu, devagarinho. Quase não te sinto, és tão leve que quase tenho medo que voes com as folhas. Sobes comigo ás nuvens, porque não as vemos, e desenhamos infinito com o peito, inventamos um brilho só nosso e fazemos calor. Viramos os copos de água escura que nos tenta molhar, só com um beijo. Conseguimos parar as ondas e aquece-las devagarinho. Fazemos a praia virar céu. Tatuamos as estrelas de areia que o céu nos ofereceu, fazemos dele nosso, mas sempre sem o sol saber. Mas ás vezes as estrelas acordam o rio com o calor e o Sol quase nos toca a pele, é aí que dizes''até amanhã, minha princesa''
Sente-se de longe o devagarzinho de cada passo dela, voa sozinha, sempre sozinha, mas sempre com cheirinho a mar, sempre com cheirinho a asas prestes a abrir. É por isso que encanta, são as asas dela. Ameaçam a lua. Ameaçam a beleza do mundo, ameaçam abrir a qualquer momento, e aí, o mundo gira, gira em volta das asas dela. E vai brincando com o coração das coisas, ás vezes fala a sério e as asas quase acordam mas tem sempre o mar para lhe acalmar o coração. 
-''És má porque pensas com o coração, borboleta''-dizem-lhe eles a toda a hora.. Ás vezes fica confusa, mas está lá o mar. O mar. O mar é ele. Ele é o amor dela. Ele corre sempre com ela. 
-''Sempre gostei do pôr do sol mas contigo fica tão mais suave, amor''- diz-lhe ela com malícia, só para lhe ver o rasgar do sorriso. A perdição dela. O sorriso dele. Ela é má com ele. Ele é mau com o coração dela. Mas são tão cheirosos juntos. E pelo cheirinho, o mar não vai deixar que as asas dela se abram, que ela lhe fuja. Porque o perfume dela é a perdição dele. Não se lembra nunca dos momentos em que se perde nos jardins dela. Não sabe nunca onde esteve, quando acorda.
-''Onde me levaste?''
-''Foi só um abraço, anjinho''