25.1.11

Hoje sou só eu e o cigarro. Não resisto, confesso. Só vocês me acordam. Não vos resisto. Mutuamente, o cigarro por ti e tu pelo cigarro. Porque quando não te tenho, tenho um cigarro. E só estes sentidos, simples, solitários. Pelo jeito que me arruínam. Aniquilam-me, tão friamente. Belos, tão belos. Pela forma que me fazem desejar-vos. O desejo que me executa. Abate-me. Acho que só estes bens tem o poder de me rebaixar. Porque me tem na mão. Porque eu sou vossa. Só pelo prazer tão feroz que me provocam ao rasgar-me a garganta. O grito que me obrigam por unhas tão espinhosas cravadas na garganta. Já de tanto vos fumar. Porque no fundo, fumo-te porque não te tenho e mato-me, lenta e cruelmente. Assim como o meu nome. Desaparece que nem nicotina. Desapareço. Morro, outra vez. Até amanhã-

24.1.11

-Adoro egocêntricos. Se pudesse recolhia-os todos e morava com eles. Estimo-lhes o sentido, tanto! Quem me dera!
-Vânia não sejas parva, não passam de egoístas sem coração, só querem saber de si. Estão-se marimbando para o mundo exterior e não olham a fins para atingir meios. Queres mesmo dar-te com pessoas assim?
-Se quero? Acho que me vejo capaz de fazer seja o que for para ser como eles, ou pelo menos ter amigos assim. Que me ensinem a ser egoísta. Que me ensinem a mandar tudo á merda. Tudo menos eu. Até mesmo a ti, todos! Acho que é a minha maior certeza, quero ser egocêntrica. Só querer saber de mim. Falar de mim. Pensar no melhor para mim. Cansar os outros comigo. Não o contrário. Nunca falar de outros. Não merecem. Nunca cansar-me com eles. Chama-me louca. Vá-se lá digerir! Nunca me irás discernir-e agora cá entre nós, insípidamente-ainda bem!

20.1.11

Chega de paixões platónicas. O que me interessa hoje é caçar almas palpáveis. Daquelas que se sentem na pele. Hoje estou simples. Apetece-me o fácil, só hoje. Anseio pelo real, comum, sujo. Preciso do real quase como preciso da tua saudade. Da tua extravia por mim. Hoje quase me digo hábil a ser igual a ti. Fraco, débil, impotente, frágil, belo. Estou com medo, pavor aliás. Fico horrorizada só de pensar que já não me cansas o nome no senso. Nesse intimo medonho. E vou-me assim a baixo. Caio no chão como os fracos. Flácida. Mas só porque sou pessimista e só porque quero tudo de uma vez, só porque te julguei digno de te dares todo a mim.

17.1.11

Adoro abusar da sorte. Ou melhor, adoro o abuso em si. Atraí-me muito. Aliás é verdade o que dizem de mim. Quando me dão a mão eu agarro logo o braço, ou até mais. Gosto de ter as armas todas e quando isto não acontece entro em pânico. Tenho que ter tudo debaixo de olho. Pelo menos no que toca a mortais .

11.1.11

isso

Cansas as palavras. Desgastas e arrancas-lhes o sentido. Cruel. Ninguém pode fazer isso. Nem mesmo tu. É. Tenho que ser fria. Repetes-te e salvas o teu sentido. Só teu. Dás-lhes nova vida. Renascem, em ti. A teu ver . Mas não pode ser. Cuidas e reconfortas como se fossem tuas, bem junto desse gélido músculo que palpita. Pulsa por mim. Sei-te melhor que tu, sei-te de mais. Inveja. Tenho tanta inveja delas. Por te dares a elas. Delas não tens tu medo. Encantam-te. Ardem em ti como febre. Tal como eu. E invejo-as por isso. Por terem a mesma presença em ti. O mesmo valor que eu. Não tolero. Não posso. Arrisco-me a perder-te nelas. Quero que te percas em mim. Sim, tenho ciumes das palavras. Não das palavras. Da relevância que lhes dás. Do pedaço de ti que pões nelas. Isso. A lasca de ti que te distorcem. O fragmento teu que te arrancam. Angustia-me mais que tudo. Não te ter por inteiro. Intacto. Quero-te não na maioria e muito menos em parte. Quero-te no total. Entrega-te todo ou desaparece -