Nunca soubeste lavar-me a alma das coisas más que o céu guarda nos corações. O meu estava sujo, sujo do que em tempos tu te esqueceste de lavar e mais uma vez, devia ter esperado uma água transparente, sem amor. Mas continuei a sonhar e a esperar uma fusão de flores e amor, uma fusão quente que me espantasse os males do peito. Fizeste com que o meu coração ficasse ainda mais pintado de ti, pelo amor que te esqueceste de mostrar e pelas palavras que guardaste debaixo da minha pele, que não proferiste mas que existiram, na minha imaginação, no mais inocente de mim. Por terem já existido te julgo culpado da cor má com que me banhaste o vermelho do sangue. Faltam-me abraços na vida, abraços por si só. Abraços tão verdes quanto os olhos que pintei em minha memória, julgando ser os teus, julgando um dia ouvir deles palavras que se ficaram pelo querer, que nunca saíram do teu vento. Esse vento que me atormenta os lençóis á noite. Tão belo, esse teu vento que sempre insiste em voltar a mim. Fujo dele, não por medo mas por culpa. Como nunca tiveste o direito de me desenhar com linhas roxas, escuras, eu não tenho o direito de te trazer o vento comigo, para a eternidade, com vontade. Não me pertences mais, apesar de te ter misturado a cor com a minha numa mistura que provavelmente nunca me vai sair das unhas. Permanecerás na cor do meu coração mas não no cheirinho das minhas manhãs, permanecerás nas margens do nosso rio, mas sempre longe, a mais distante margem do conceito-amor. Mantém-te agora na areia que eu um dia irei pisar, só para tomares conta de mim e para não deixares que eu nade no mar sem ti. Mantém-te sempre diluído na minha cor pequenina mas nunca mais me faças grande, nunca mais me envies o cheiro dos tempos em que me destruías os sonhos, porque me faltam abraços e tu não me sabes abraçar toda, só consegues chegar ao limite de mim, não me agarres mais com vontade. Se um dia o fizeres, que seja perto do rio onde me lavava, ás escondidas, para nunca saberes que me lavavas mal. Que seja, então, perto, bem perto do rio para saberes o quanto sangue lá deixei, sem querer.
http://www.youtube.com/watch?v=ZgPLNhV8DSI
ResponderEliminarVeja se se INSPIRAM - saúdo :)