6.9.12

Sente-se de longe o devagarzinho de cada passo dela, voa sozinha, sempre sozinha, mas sempre com cheirinho a mar, sempre com cheirinho a asas prestes a abrir. É por isso que encanta, são as asas dela. Ameaçam a lua. Ameaçam a beleza do mundo, ameaçam abrir a qualquer momento, e aí, o mundo gira, gira em volta das asas dela. E vai brincando com o coração das coisas, ás vezes fala a sério e as asas quase acordam mas tem sempre o mar para lhe acalmar o coração. 
-''És má porque pensas com o coração, borboleta''-dizem-lhe eles a toda a hora.. Ás vezes fica confusa, mas está lá o mar. O mar. O mar é ele. Ele é o amor dela. Ele corre sempre com ela. 
-''Sempre gostei do pôr do sol mas contigo fica tão mais suave, amor''- diz-lhe ela com malícia, só para lhe ver o rasgar do sorriso. A perdição dela. O sorriso dele. Ela é má com ele. Ele é mau com o coração dela. Mas são tão cheirosos juntos. E pelo cheirinho, o mar não vai deixar que as asas dela se abram, que ela lhe fuja. Porque o perfume dela é a perdição dele. Não se lembra nunca dos momentos em que se perde nos jardins dela. Não sabe nunca onde esteve, quando acorda.
-''Onde me levaste?''
-''Foi só um abraço, anjinho''

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