22.3.11

Deixaste-me frente a frente ao rio. Ficamos os dois de olhos colados. Eu e o rio . Rio de lágrimas, ou quase. Foste embora exibindo essas costas temerosas, robustas. Fiquei eu, sozinha pela primeira vez. Medonha e negra. Como ? Também não sei, mas fiquei com lastimas e descuido no coração,só. Estranhíssima fiquei eu! Quase destruída -um quase medonho-...E tu, tu foste outra vez da minha alma. Numa só tarde arrepiada foste mais de mil vezes. E eu sozinha. Desapareceste como vieste. Sem deixar dedadas de presença e eu ali, sozinha. Sentimentos desmedidos, abstractos, inomeados ocupavam-me, e não só o físico.  Mas tu, tu pisas morte, sei melhor que qualquer temeridade indomada que estás a morrer, estás perdido nos descalabros dos corações, essa típica tristeza dos apaixonados...Estás carregado de mar salgado no verde acastanhado nos olhos, bem pior que eu. Sei-o tão bem! Ninguém te o direito de me deixar frente a águas tão duras. Vou-te cortar os poros um a um com o perfume que te afoga. O meu nome ainda te nada nos leitos morenos e suados, atrevido. Os teus lábios, separados de ti, ainda contém uma reserva da minha saliva que espreita de vez em quando e que te faz sentir o calor dos meus beijos, em sonhos. Não te vou largar

3 comentários:

  1. É como se por momentos fosses um espelho e eu o teu reflexo, sabes? Incrível a forma como tudo se assemelha a mim. Gosto de estudar as pessoas, de lhes fintar o olhar e de lhes limar pontas soltas. Ohhh pontas soltas, gosto tanto, tanto. E almas magoadas, também me chegam a agradar muito, sabes? Porque quando estamos magoados somos sempre só nós - longe de defesas e expressões treinadas. Somos despidos de tudo e nus nos mostramos ao mundo. Afinal do contas, o que tem uma alma estilhaçada a perder? Pois bem, adoro corações assim, amolgados. Sei que posso cuidar deles da melhor forma e que no fim, no fim poucas são as probabilidades de sair de espinhos cravados no peito. E Vânia, o teu jogo de palavras é tão incrível! És poderosa*

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  2. Fixar-lhes os olhos e vê-las desviar o olhar que nem criança assustada, demais não é? Faço-o tantas e tantas vezes. As suficientes para me aperceber do quão frágeis são esses nacos de carne que nem perfurar almas com olhares conseguem. Derreto-me sempre que alguém se sente à vontade para entrar numa luta silenciosa comigo, onde só os olhos combatem e aumentam pulsações. E sinto-me triste porque de facto, contam-se pelos dedos os capazes disso. Mas bem, Vânia linda, a beleza nada importa. Às vezes pergunto-me se chegará mesmo a conferir-nos poder, sabes? Invejas, jogos de interesse e sentimentos vis, esses estarão sempre presentes, é certo. O resto é irrelevante, coisas superficiais e tão relativas como a beleza são sempre irrelevantes. Mas tenho-te a agradecer - ainda que agradecimentos soem sempre mal - por me aqueceres a alma tão bem. Escrevo tão somente o que vejo em mim e em mentes alheias. Escrevo sentimentos, e não devia, não devia de todo tentar transcrever tal coisas abstractas. Mas gosto tanto delas, sabes? Impossível não lhes tocar os sentidos.

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  3. Vânia , adoro (:
    Admirei-me agora, escreves de uma maneira linda :)

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