17.4.12

Ela nunca chorava. Mas agora chora, chora por um Sol que não é Sol. Confundiu o Sol com um raiozinho minúsculo que já nem brilha. Um raiozinho mau que lhe arranha a doçura. Corre tanto. Procura uma casa, uma casa longe do mundo mas pertinho do rio que lhe pertence. Para guardar o Sol que um dia vai aquece-la. Já tem um rio, e ás vezes conversam, ela sabe que é especial para ele porque mais ninguém lhe ouve as mágoas, mais ninguém lhe sossega as lágrimas que nunca caem, ela está lá, sempre. E desenha cada graozinho de casa com os seus olhos verdes pousados no rio, desenha a casa onde sabe que um dia vai deixar o coração aquecer. Mas chora porque está frio. Agora chora muitas vezes porque a porta da casinha que os seus olhos desenham não tem chave. Encontro-a sempre deitada na areia, de pulmões cheios, por correr mil mundos seguidos, com uma lágrima no olho que nunca cai, de mãos dadas ao rio. Não gosta de lhe chorar na frente. O rio prometeu-lhe a chave e ela nada nele, luta para que o coração fique quentinho como antes. E nunca cai.
Ele anda por aí. Está ocupado a cheirar todas as rosas do jardim que ela cuidou. De vez em quando voa perto do rio dela e tenta falar-lhe mas o rio não lhe acredita nos olhos. Ás vezes ela nem o vê chegar. Adora vê-lo chegar. Ele esta encantado com outras rosas.E ela deitada, com o frio a fazer-lhe da pele uma pista de dança. O rio deixou-a fugir e agora estão frente a frente, ele e ela, e a chuva. Ela chora. Ele toca-lhe no rosto e diz que as rosas de cristal lhe aquecem o coração. Ela chora. Ele mostra-lhe as costas e parte para sempre mais uma vez. Ela cai no chão, com a chuva. E ficou. Ficou até ouvir o rio a gritar-lhe as saudades com o coração. E correu para o rio. Fugiu do mundo, seguiu o pequenino palpitante que a magoa sempre e obedeceu-lhe.  
 Deu a mão ao rio e nunca mais olhou para o raiozinho de Sol.

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